sexta-feira, 22 de janeiro de 2010


O dia em que me tornei Eu.
O dia em que me tornei Eu aconteceu como um dia qualquer.
Daqueles em que acordamos e queremos ficar mais na cama, mas somos obrigados a levantar e sair para fazer... para fazer o quê? Ainda me pergunto isso mesmo depois de tanto tempo.
Para fazer nada.
Nada.
Afinal, nada do que fazemos é para coisa alguma.
Para ser fiel ao que digo, vou descrever o que desejei fazer ao acordar naquela manhã.
Lembro-me que no abrir dos olhos, ou se preferirem, no despertar da alma, fui invadido por milhões de fragmentos que me lembravam meu autor favorito: Fernando Pessoa.
Pensei naquele instante em escrever alguns dos muitos trechos – creio que quase todos que escreveria seriam fortemente influenciados ou iluminados por ele - exatamente na mesma hora em que eles invadiam minha mente ou fossem transcritos para o papel.
Mas não o fiz.
Pois de repente, me peguei pensando em uma reflexão de Rubens Alves, e me indaguei:
“O que me aproxima tanto de Fernando Pessoa? Por que ele me sensibiliza tanto? O que temos em comum? O que Eu tenho de Pessoa e Pessoa de mim?”
Lembrei novamente de Rubens. Concordo plenamente quando ele discorre sobre o que nos leva a gostar de um autor.
Ele acredita que devesse ao fato de estarmos em comunhão, de sermos “feito do mesmo sangue”, “companheiros no mesmo mundo”, não importando a distância de época entre vocês.
E foi assim que descobri.
E foi assim que me descobri.
No dia em que me tornei Eu.
Não fiz coisa alguma, pois coisa alguma serve para alguma coisa.
Apenas percebi que sempre seria um “escravo cardíaco das estrelas”,
escrevendo eternos poemas póstumos à amores recém-nascidos,
e fechei os olhos e voltei a dormir,ou se preferirem, a navegar rumo ao pórtico para o impossível.

Leonardo Roat

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