sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011


Sim, eu confesso!
Matei o tempo.
Aquele cavalheiro altivo.
Foi minha própria mão,
minha própria boca
que o matou.
Não pensei, não premeditei
nenhum movimento.
Fiz a golpes de martelo,
à mordidas.
Depois esquartejei-o sem medo,
sem dó,
sem dor,
só para ter certeza que não havia sobrevivido.
Esmaguei séculos,
cortei milênios,
mastiguei minutos.
Fiz sangrar tudo o mais
que pertencesse ao Sr. Tempo.
Eu não via outro jeito.
Na verdade, já havia muito tempo
que nem eu, nem ele
enxergávamos mais nada.
Eu não via outra oportunidade.
E ele dizia que, realmente, talvez ela não existisse.
Por isso creio eu, matei-o ali mesmo.
O Tempo, aquele bastardo miserável.
Não teve nem tempo para reagir.
O Tempo, comparsa do Destino,
não imaginava que aquele seria o seu.
E agora,
aquele que gabava-se
de nunca ter sido iludido,
de nunca ter ficado parado,
de nunca ter sido, ao menos furtado,
está morto.
E fui eu quem o matou.
Eu, assassino confesso,
agora me orgulho em gritar
olhando dentro dos seus olhos já sem vida.
  • Corrias pra quê?
  • Corrias pra onde?
  • Corrias pra quem?
  • Por quem?
Me responde agora, porque tanta pressa?
Agora que estás morto,
terás tempo para tudo,
terás tempo para o nada,
terás pressa pra nada,
terás nada de tudo o tempo todo.
Estou certo Sr. tempo?
Sim, esta mesma boca
que ainda sente o gosto
de sangue e lágrimas,
abri-se para difamar
o que até então era tido por
um nobre cavalheiro.
Sim, matei o tempo.
Essa é a primeira parte da minha vingança.
Que mostrou-se repentina
e por isso fantástica.
Sim, matei o tempo.
E deixei seu comparsa Destino
a esperar.
Ficou desacompanhado.
Desacorçoado de qualquer companhia
ou coisa que lhe fizesse sentido.
A verdade é que eu não podia mais existir daquele jeito.
Com sua presença ali, insuportável.
Sim, meus caros senhores,
eu matei o tempo
e agora o Destino que se cuide.


Leonardo Roat

Escrita em 27 de janeiro de 2011.

terça-feira, 30 de novembro de 2010


É difícil levantar-se e lutar pelo que é certo
e ainda assim sobreviver.
É difícil definir certo e errado
quando toda a objetividade se foi.
Afinal; do primeiro segundo à última nota,
do primeiro beijo à última tentação
nossa habilidade de viver está ligada ao real;
mas a de sobreviver...
ao sonho.
Ao sonho de que aqueles breves momentos de alegria,
de que os pequenos milagres cotidianos
não sejam tão breves assim.
E Eu sonho.
Eu sonho por você, minha Pequena.
Eu sonho pra você aquilo que depois de muito tempo comecei a sonhar pra mim.
Que você perceba que não existe uma pergunta, uma história
e sim várias;
todas na mesma busca no mesmo anseio.
E elas não estão separadas como bem e mal,
real e imaginário.
Todas compõem o mesmo caminho,
como o trajeto de uma lágrima que encontra um sorriso.
Não somos um.
Somos cem, somos mil.
Intangíveis, sem ordem, sem nexo.
Guardamos nos mesmo lugares
lindas canções e sentimentos obscuros.
Mas não se assuste...
não tenha medo Pequena.
Nós somos lindos; 
pois esse emaranhado de coisas é o que nos torna únicos,
é o que nos torna... nós.
Então corra, dance, cante, grite, pule, brigue, ame, chore, ria, invente, imagine, crie... quantas vezes quiser.
Pois tudo dentro e fora de você estará sempre ao seu alcance;
e a vida inteira;
o mundo inteiro são na verdade um grande armazém.
Entre minha Pequena,
Estenda sua mão, escolha na prateleira o que bem desejar,
misture tudo sem ideias pré-concebidas.
Fique à vontade.
Sonhe o que você quiser.
E seja bem vinda!

Leonardo Roat

escrito em 14/09/2007

sexta-feira, 12 de novembro de 2010



Noites
Muitas noites.
Sim, em muitas noites tenho ganhado
e perdido muita coisa que realmente importa pra mim.
Mas queria te dizer
que não é por você
não foi por você
que chorei
que ri
que vivi
Nunca foi por você.
Não.
Nunca foi por você que fiz coisa alguma.
Não foi por você que escrevi este poema.
Não foi por você que continuo a mentir pra mim.

Leonardo Roat

escrito em 17/05/2007

quinta-feira, 28 de outubro de 2010


Há tempos atrás,
eu escrevia poemas,
rimados,
desses ritmados,
muito sonoros,
muitos usados.
Pra mim
nasciam fáceis,
mas hoje não;
saem suados
e minha cabeça
quase não dá conta;
e o lápis
tenta com sua ponta
em vão ordenar os pensamentos,
os sentimentos,
de rimas antes infantis,
de rimas antes gentis,
com meus ouvidos
e coração.
É... talvez sejam os anos chegando.
Por isso eu me despeço;
sem escrever um poema de amor,
mas pelo menos tentando,
mesmo sem rimas tão belas
dizer: Te Amo
E continuo te amando.

Leonardo Roat

(poema escrito em 17/05/2007)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010



A calma com que te amo me assusta;
ela cria um abismo de silêncio, de loucura
entre Eu e Eu.
Um Eu que olha assustado o outro Eu enlouquecido
que está do outro lado do abismo.
Um Eu que mata o Eu que fui do lado de cá.
Um Eu que ressuscita em outro lugar;
superior ao Eu assassino do lado de lá.
Não sei mais onde estou ou se sequer existo.
Pois cada dia que passa, a minha ausência se faz presente
nos dois lados do abismo.
Talvez eu esteja de verdade lá embaixo, escondido, protegido de tantos Eus a se dilacerarem diariamente tão perto do céu, tão perto de ti.
Mas, a procura de quem? Por quem? Por quê?
Quem sabe Eu talvez algum dia encontre a resposta
refletida em um objeto qualquer ou numa poça d'água qualquer,
formada por uma chuva qualquer,
de lágrimas que acidentalmente rolaram da tua face e sem querer formaram um espelho;
sim, um espelho onde eu pudesse não encontrar a resposta,
mas a mim mesmo
e por breves instantes
ver em meus próprios e inexistentes olhos
que é você quem me salva todos os dias,
que é você quem sempre me encontra lá na escuridão.
Talvez em algum dia ou em alguma noite
antes de você derramar a primeira e furtiva lágrima,
um dos meus Eus; quiça o verdadeiro,
te encontre,
segundos antes do eterno choro começar
e te beije.
O primeiro beijo, a última tentação
e o inefável reflexo surgirá agora em teu sorriso,
em meu sorriso.
Seremos então um único ser.
E em nossa mitologia, Eu, Você, abismo e céu seremos o mesmo tudo,
o mesmo nada, a mesma água de uma pequena poça eternamente refletida entre as profundezas da escuridão
e a luminosidade celeste.

Leonardo Roat

terça-feira, 26 de janeiro de 2010



Morreu hoje o último anjo
e o céu chora
por que sabe que agora
será o início de uma nova era.
E o céu sorri
por que agora prepara-se
para contemplar o espetáculo da vingança.
Morreu hoje o último anjo.
Começaram os anos de solidão.

Leonardo Roat


O colapso das coisas
é o som da gota
em um lugar seguro.
E a batida do meu coração
é uma grande linha branca.
Fico sonhando
com algum lugar
abaixo da chuva
e acima dos meus olhos,
com algum lugar cristalino
onde meu corpo possa flutuar
nas brumas do mar em círculos
e eu possa recordar secretamente
que tudo se foi
e eu não tenho mais face.
Agora, a desordem e o caos,
Mãe e Pai tomam conta de mim
e nada além do silêncio
invade meu berço absoluto.
E até me esqueço quando
meu Pai me diz: não se assuste.
Premeditadamente com prazer
já me coloco a preparar o que farei
para conter o inevitável quando ele vier,
se vier.
Assim, vociferado pleo tempo que não passou,
me sento ao terraço
e fito a árvore seca que fica em frente.
E crendo estar sozinho
espero por ela;
a Princesa,
a única herdeira de dois poderes,
sem dar por mim que ela
já está a me fazer compania
desde antes dos tempos serem tempos.
E assim, ficamos,
Eu e Ela
sentados no terraço
em nosso interlúdio infinto;
esperando pela ruptura
que nos leve;
passando pela árvore seca de defronte;
rio acima
ou rio abaixo.

Leonardo Roat